Tudo que poderia ter sido, mas nao foi.

Muito chato isso de a gente quebrar copos. Só essa semana foram dois aqui em casa (detalhe que o último foi pela janela e caiu há mais ou menos duas horas da hora em que eu estou escrevendo esse texto). É porque o parapeito da minha janela é bastante largo e cabe até, com alguma boa vontade, um pires cafona encimado por uma xícara de chá. Enfim, o fato é que eu perdi dois copos e eu gostava muito deles.

O copo hoje defenestrado foi somente o último infortúnio de pelo menos uns três que a sexta-feira tão gentilmente me trouxe. Antes dele ainda precisei colocar uma camiseta branca de molho no tanque porque o molho de tomate da lasanha de forno Sadia resolveu brincar de Daiane dos Santos e fez um duplo twist carpado no meu pijama. Mas o realmente interessante, de todos esses reveses pelos quais tive que passar ao longo da noite, foi o primeiro deles: a triste perspectiva de “aquilo que poderia ter sido mas não foi”.

A vida da gente é um mar de possibilidades e oportunidades, às quais somos submetidos todos os dias, todas as horas, minutos e segundos até, se você prestar bastante atenção. Não precisa ser o emprego dos seus sonhos batendo à porta, mas o simples troco do supermercado que veio errado e você notou a tempo de devolver. Bastam duas piscadas até que você aproveite ou perca a oportunidade de ser honesto e corrija o erro da moça do caixa. Pronto, foi uma chance. Tudo muito rápido e creio que, exatamente por isso, perdemos várias e várias ao longo de um dia. Tudo na vida tem 50% de chance de dar certo, e até o caminho que você tomou hoje para ir pra faculdade, quando derrubou o copo de café porque tropeçou na calçada quebrada, pode ter feito você ver o amor da sua vida sem nem notar. Mas essas pequenas oportunidades nem fazem tanta diferença assim, no somatório geral; são décimos, se comparados aos algarismos centenários que completam essa conta. E é desses algarismos que eu quero falar: as substanciais oportunidades que poderiam ter sido, mas não foram.

É normal sentir medo. A energia amarela do medo é a força mais poderosa do Universo, de acordo com a Tropa dos Lanternas Verdes, e todo mundo a sente em vários momentos. Foi o medo que nos preveniu de morrer e que trouxe a (desg)raça humana até os dias atuais, como a espécie dominante da Terra – para azar de todas as outras e até de nós mesmos. Só que o medo tem o dom de prevenir demais. E isso se torna um problema, a partir do instante em que você deixa de aproveitar as boas chances que o acaso te coloca na vida, por não sentir-se seguro o suficiente para arriscar.

Todo mundo tem um trauma, uma perda dolorosa, uma decepção amorosa, um fracasso profissional. É comum, afinal. Estamos nessa chuva para nos molhar e todos – com exceção do Eike Batista e do Chuck Norris – somos suscetíveis aos mais variados resultados. Mas antes de descobrir o resultado, é preciso tentar alguma coisa, e o número de pessoas que deixam de tentar por receio do desapontamento, é demasiado grande. O único resultado que você alcança, deixando de fazer alguma coisa por medo, é uma coleção de belas histórias de “poderia ter sido, mas não foi”. No fim das contas, você vai contar para os seus filhos e/ou netos fabulosas narrativas de como você poderia ter sido um grande empresário, ou ter conquistado a mais bela aluna do curso de Comunicação Social da Universidade de Brasília, ou ter ficado com o cara que você mais amou, mas nada disso aconteceu só porque teve medo de não dar certo. Aliás, você só vai contar essas histórias para os seus filhos e/ou netos se tiver coragem para fecundar alguém; o que pode não ocorrer, pois há o risco de você nunca conseguir levar essa pessoa para a cama, com medo de ser rejeitado.

Complicado isso. Analisamos todas as possibilidades de algo dar certo ou dar errado e tomamos decisões com base no julgamento pessoal do que pode acontecer.

Depois de fazer uma profunda análise de uma recente complicada história que venho tendo desde o final de 2011 e, após gastar todas as minhas cartas na manga, abaixei minhas defesas num ato um tanto inconsequente (mas absolutamente sincero) e fiz um pedido de namoro que nunca foi respondido. Mesmo com medo e tomado pela total incerteza do sucesso, dei minha cara a tapa e ainda assim, nem um tapa eu levei. E então o pedido de namoro ficou no ar, pairando sem um desfecho digno.

Meu conselho, embora saiba que eles não sirvam para nada, é para que tenhamos medo, quando este se fizer necessário, mas não devemos deixar que roube-nos as oportunidades que podem dar um novo rumo à nossa vidinha mais ou menos. É melhor negócio transformar as cogitações em ações e fazer as coisas boas SEREM, de fato. Se não, boa sorte no futuro, quando toda a sua história for baseada em tudo que poderia ter sido, mas não foi.

Assim como o meu bonito romance que nunca foi, nem jamais será.

Imagem