É o último dia do ano. Não tinha muita certeza se faria um texto sobre 2013 ou não, mas visto que eu tenho muito tempo sobrando e esse ano foi, para dizer o mínimo, “de tirar o fôlego”, acredito que o ano que se passou merece pelo menos um lembrete aqui no Daora. Afinal, nunca houve nada como 2013 e eu fico feliz de pensar que eu fiz parte de um período que deixou sua marca na História. Não vim aqui fazer retrospectiva porque eu acho que a Globo e todos os jornais do mundo já fizeram esse serviço para nós.
2013 entrou para a História da humanidade porque foi um ano de revolta. As ruas do mundo inteiro foram tomadas pela indignação e pela insatisfação com as estruturas vigentes. Engana-se aquele que crê que essas manifestações foram absolutamente aleatórias e desconexas. Se prestarmos atenção, a fúria do povo com seus governos pareceu dar-se de uma forma quase que coordenada em vários países (e algumas de fato, o foram) e isso, queiramos ou não, quer dizer alguma coisa. Quer dizer que estamos em um processo de mudança que apenas começou no ano que em breve se encerrará. O povo se pintou de rua e a rua se pintou de povo. As pessoas, pouco a pouco, foram percebendo que nossas crenças não são tão inquestionáveis e inabaláveis como nos fizeram acreditar a vida toda. Dogmas estão sendo quebrados, tradições estão sendo revistas e todos os valores que produziram o mundo que a gente tem agora estão começando a ruir. Os movimentos sociais ganharam mais força do que nunca, a geração que questiona o capitalismo voraz e insensível resolveu mostrar o rosto (alguns mantém o rosto coberto, mas isso é assunto para… outro ano), um novo pensamento político questionador saiu de trás das telas dos computadores e resolveu gritar no ouvido de quem sempre nos ignorou. E isso é só o início. O machismo, a homofobia, o racismo, a intolerância e o fanatismo religiosos e o pensamento mercadológico que hoje assolam o mundo serão combatidos, serão postos à prova, pois é um planeta livre desses males que nós queremos ver nascer em 2014.
Que a morte de Mandela não seja esquecida e diminuída por uma história mal contada de sua vida. Que a luta desse grande ser humano seja lembrada como de fato foi: com muito sangue, suor e lágrimas. As lutas não foram fáceis, até hoje não são e é isso que todos que ainda não entenderam precisam entender: não se faz uma renovação de valores na Terra se a gente não mudar a forma de pensar e de agir. Como diria meu artista predileto, Gabriel o pensador: “a gente muda o mundo na mudança da mente”. E ele está certo. O desafio de 2014 é fazer essa ideia chegar ao ouvido daquelas que por séculos foram tratadas como cidadãs de segunda classe. Daquelas que foram relegadas às favelas e à miséria, daquelas que hoje são obrigadas a alisar os cabelos, porque tem o “cabelo ruim”. Daquelas que são obrigadas a abaixar a cabeça para os maridos e viver como subalternas de um sistema que as colocou como inferior. Daqueles que têm sua orientação sexual julgada pelas leis da Igreja e pelas leis dos homens, e morrem todos os dias por não poderem ser aquilo que são e amarem de uma forma que nem todos conseguem compreender.
A ideia de revolução e de luta precisa ecoar nas mentes de quem mais sofre com a falta de uma mudança. E é isso que 2013 nos lega, por fim. A necessidade de mudar, de quebrar os paradigmas e de fazer mais e mais pessoas indignarem-se e ir às ruas brigar por algo que, vejam só, nem precisaríamos estar brigando: uma vida plenamente digna e com respeito à diversidade.
Que venha 2014, com todas as mudanças e toda a raiva que puder trazer, para que 2013 não seja só um ano maluco e conturbado, mas sim o início de um tempo em que ter coragem para lutar vai ser a marca de uma geração. E é essa geração que vai olhar para os livros de História e contar orgulhosa para os filhos que subiu no Congresso Nacional ou que botou fogo nos ônibus (tá, isso foi sacanagem).
Enfim, queridas e queridos, tenham um fim de ano lindo e cheio de felicidade. Que a Força esteja sempre com vocês.
beijos, do Lipe.