E aquele adeus, nao pude dar…

Já parou para pensar no número de pessoas que já passaram pela sua vida? Muitas. Centenas. Milhares. Centenas de milhares. Um porrada de gente, essa é a verdade. Pessoas que hoje você talvez nem se lembre onde conheceu, ou como conheceu. Gente que hoje em dia, se você cruzar no meio da quadra, talvez nem reconheça, com grandes chances de ela também não lembrar-se de você.

Recordei-me disso um dia desses, arrumando meu armário. Tenho para mim que arrumar o armário é uma daquelas coisas que inevitavelmente vão fazer você sentar e perder horas em devaneios sobre o passado e sobre a sua vida. É nessas ocasiões que você acha um cartão de aniversário perdido, uma carta de amor esquecida em meio a milhares de outras tranqueiras que passam tempos sem ver a luz do sol. Foi numa dessas arrumações que caiu uma foto no chão. Uma foto de vários amigos no ensino médio. Como eu disse, é impossível não dar um tempo da bagunça e lembrar o momento em que aquela foto foi tirada. Num instante todas as memórias te atingem como um soco no rosto e passamos incontáveis minutos perdidos em recordações, boas e ruins. Porque até as ruins devem ser lembradas com carinho.

Me pergunto o que aconteceu com a gente. Me pergunto, na verdade, o que acontece com todos nós. O que acontece com as declarações de amor eterno, as promessas feitas no silêncio de um abraço, as lágrimas que selam a amizade que, até então, cremos ser para sempre. O que acontece que a vida, essa professora megera e implacável, sempre faz cair por terra todas as esperanças que temos de ser vitalício aquilo que, infelizmente, é efêmero. Quero saber onde foram parar as risadas, as piadas, os sorrisos, os abraços, os beijos, os conselhos, os segredos e tudo o mais, daquelas pessoas que na minha (recém-terminada) adolescência, eu achei que fossem se tornar fixos na minha vida. Será que ficaram presos no pátio da escola? Monumentos da saudade de um tempo que não volta mais?

O tempo passou. Passou para mim e para todos eles. Amigos, dos quais eu sabia até a caligrafia, hoje não poderia dizer se estão casados ou não. Amigos que, não me pergunte por quê, eu não pude dar um adeus decente e no meu coração restou somente a saudade e a dúvida de como eles desapareceram da minha vista, assim, tão rapidamente. O mundo dos adultos nos impõe uma troca, mas ninguém me perguntou se eu estava a fim de fazê-la. Quanto dinheiro eu ganho por ter perdido os amigos que perdi? Quantos créditos na faculdade eu recebo, por ter deixado de ligar para aqueles que antes só me fizeram sorrir? Quantas ações na bolsa de valores vão cobrir o vazio que existe em nós, sempre que lembramos daqueles dias que ficaram no passado? Talvez a culpa seja minha. Talvez deles. Talvez de ninguém. Talvez seja da vida. Quero um ressarcimento, por tudo o que me foi tomado sem que eu tivesse chance de protestar.

Ou não. Pode ser que a vida não nos deva nada. Que isso seja só uma maneira (difícil, porém necessária) de mostrar que nada é ad infinitum. E que é melhor que nós dêmos valor agora, pois pode nos ser tirado no segundo seguinte, na ligeireza de um suspiro.

Esse texto é para dar adeus. Adeus à todos aqueles que me fizeram rir, chorar de alegria e de tristeza. A todos que eu não pude dar um abraço apertado e desejar toda a sorte do mundo nessa jornada difícil. Aproveito para agradecer as piadas, as gargalhadas, as lágrimas e os gritos e dizer que nunca esquecerei os momentos que passamos juntos. Sei que milhares jamais lerão esse texto, mas me sinto mais tranquilo em pensar que essa é a minha forma de dar um adeus digno à todos que, de uma forma ou de outra, marcaram minha vida. Os instantes não duraram para sempre, mas, no meu coração e na minha memória podem ter certeza que os fiz eternos.

“Se lembra quando a gente

chegou um dia a acreditar

que tudo era pra sempre?

sem saber que o ‘pra sempre’ sempre acaba…”Image

O que os cartoes de amor nao te contam

Curioso como um momento único no seu fim de semana pode alterar completamente o rumo dos seus pensamentos. Totalmente fugaz, quase que de relance e… pronto, você está completamente absorto em reflexões que antes jamais passariam pela sua mente. Aconteceu comigo, na sexta-feira passada (8). Alguém apontou pra meu peito, na direção do meu coração e disse: “cuidado, viu?”. É claro, essa frase (quase um alerta) não foi dita fora de contexto. Há um motivo pra eu ter sido advertido. Mas isso não vem ao caso agora. O fato é que isso me lembrou que estávamos perto daquele dia que faz suspirar os apaixonados e causa pânico nos solteiros.

Hoje é dia 12 de junho, no Brasil é comemorado o dia dos namorados. Um dia tão polêmico quanto engraçado, pelas reações mais diversas que os seres humanos podem ter. Não adianta, por mais que você negue e por mais comercial e/ou supérfluo que essa data possa parecer-lhe, ela, em maior ou menor medida, acaba mexendo com todos nós. Por todos os lados somos inundados de influências e acredito que para muitos se torna, mesmo que inconscientemente, uma obrigação estar com alguém no famigerado dia dos namorados. Por exemplo, no dia 4 de junho, uma amiga postou no livro dos rostos (nome fantasia: Facebook) a seguinte frase: “oito dias pra ainda ter esperança”. Confesso que achei peculiar, principalmente pelo uso da palavra “esperança”. Eu, honestamente, trocaria a esperança à qual ela se referiu, por “salvação”, dado o contexto. Oito dias para a salvação. Porque pelo que tenho visto, é isso que o namoro me tem parecido: uma âncora de salvação. Um porto seguro para os solteiros desesperados que tão avidamente necessitam de uma companhia no dia 12. Infelizmente, estar solteiro ainda é sinal de fracasso. Assim como há algumas décadas, “ficar para titia” era motivo de pena, atualmente temos titias e titios com menos de 30 ano sentindo-se cada vez mais solitários e infelizes. O  medo da solidão é a força motriz da urgência colossal que todos sentem por achar a tampa da nossa panela.

Deixo claro que como nada no mundo pode (nem deve) ser generalizado, isso também não. Há ainda aqueles que não querem, de escolha própria, namorar. Gente que habilmente encontrou a felicidade em outras fontes, em outras conquistas. Não que essas pessoas tenham desistido de amar, ou de ter alguém. Só não transformaram isso no principal objetivo de suas vidas.

E há quem tenha medo. Medo de apostar as fichas em uma ilusão. De uma vez mais jogar seu coração na cova dos leões e torcer com todas as forças para que ele não seja destroçado.

Acho que me encontro em uma intersecção desses dois. Preso ao medo de ir de novo pro campo de batalha e sair machucado e, ao mesmo tempo, feliz na minha Fortaleza da Solidão, na doce companhia do meu gato, a única criatura que eu tenho certeza nunca irá me ferir propositadamente. No entanto mentiria, ao dizer que não estou disposto a derrubar de uma vez por todas a barricada que criei e que durante muito tempo tem afastado pessoas tão legais de mim. Acredito que seja hora de pôr fim a um bloqueio que, por pura cautela, meu cérebro fez o favor de estabelecer para evitar a abertura de velhas cicatrizes e quem sabe, o surgimento de novas.

Então, amigo leitor, se puder eu ser de alguma valia nesse dia tão bonito que se abre para nós, sugiro que aproveite muito. Esteja você namorando, solteiro, enrolado, ficando, dando, comendo, sarrando na escola com seu novo amor, mamando… enfim, o quer que você faça, aproveite. Não afunde no amargor que a ideia da solidão nos impõe. É mais difícil ser feliz sozinho, mas não é impossível. Dê uma chance a si. Proteja seu coração, mas não tanto a ponto de criar uma couraça que o impeça de amar novamente. E ame, ame com todo o seu ser, não pela metade ou “só um pouquinho”. E seja honesto, com os seus sentimentos e com os dos outros. Essa parte vai definir se a sua história vai ser um lindo soneto de amor que ecoa pela eternidade, ou se será mais uma frase barata de cartão que as pessoas escrevem para vender no dia 12 de junho.

Feliz dia dos namorados a todos! =D

PS: Bichento mandou um beijo para vocês.

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Os egoismos de um coracao vazio

Primeiro vou começar dizendo o quanto eu detesto esse hábito ridículo que por milênios predomina no imaginário humano, o de representar o coração como o símbolo do amor e jogar sobre o pobre órgão toda a responsabilidade das desilusões e das decepções amorosas. Quando sofremos é o coração que tá partido, quando nos apaixonamos é o coração que pula de alegria, quando estamos sozinhos é o coração que dói. Aos fazermos essas afirmações de cunho irrealista, cometemos uma grave injustiça com o grande responsável por toda essa gama de sentimentos que nos inunda, quando o assunto é o famigerado “amor”. É o seu cérebro, e não o seu coração, que proporciona toda a felicidade, ou toda a tristeza que lhe cabem no momento em que você está amando. O nosso amigo cheio de miolos nunca é lembrado quando se trata de afeto. O coração, muito indevidamente, roubou o lugar do cérebro.

Mas bem, para efeitos poéticos, o cérebro não é a melhor opção, seja pela tradição do uso do coração, seja pela estética pouco atraente que nosso órgão máximo apresenta. Então, para não sair da linha que os românticos há muito estabeleceram, vou me utilizar da metáfora do coração e ser feliz. Ou não. Porque num post que tem as palavras “egoísmo” e “vazio” no título, não podem indicar um texto exatamente feliz. Mas não espere ler uma saraivada de melodramas e frases de efeito sentimentaloides. O que escrevo aqui é uma abstração simples e direta de como me sinto nesse instante. Não que eu saiba muito bem, mas tentarei fazer um esforço de causa no sentido de dar vazão aos meus “sentimentos” (é nessa hora que vocês riem e perguntam: “mas você tem sentimentos?”). Porque eu nunca, NUNCA, sei o que realmente está se passando aqui dentro.

Meu coração vazio é egoísta. Vazio, porque desde que a última pessoa fez questão de esvaziá-lo, não apareceu ninguém que conseguisse colocar alguma coisa dentro dele. Está sem estofo, sem… como eu vou dizer? Meu coração está alheio às tentativas externas e internas (mais internas do que qualquer outra coisa) de fazê-lo bater tão forte quanto ele conseguir. Não está vazio porque eu estou farto de amar, ou porque me tornei uma pessoa dura e fria. Não, nada disso. Não consigo sustentar esse personagem do ser humano frio e distante dos sentimentos que muitos se orgulham em exibir. Sou feito de carne e sangue, e sangro, como qualquer um, se porventura vier a me machucar. E não tenho medo e/ou vergonha de mostrar o quanto sangro.

É egoísta, porque por mais que eu tenha consciência da minha atual inabilidade para me apaixonar por alguém (e estou tentando mais do que tudo), ele é incapaz de liberar as pessoas que eu tenho plena consciência de que nunca vou gostar na mesma intensidade com que já declararam gostar de mim. Eu sei que não irei retribuir esse sentimento, mas também não quero que elas se desafaçam dele para correr atrás de alguém cujo tal seja recíproco. Quero essas pessoas atadas ao seu sentimento por mim, quero-as incapazes de se desvencilhar da minha imagem, da minha presença, da minha influência. Quero que estejam sempre presos ao poder que exerço nelas, só porque isso me agrada. Só porque isso me faz sentir bem. Só porque o meu ego enorme e cruel precisa da admiração e do estupor que sentem quando eu estou por perto.

Me pergunto o quanto de sanidade tem nisso. Me pergunto também se sou o único que sente-se dessa maneira. Tenho quase certeza de que não sou só eu. Que no fundo, todos nós precisamos desse alimento para nossos egos doentios. Talvez seja isso o que exprime o ser humano como eterno insatisfeito, sempre almejando aquilo que ele não pode ter e constantemente desprezando o que já possui.

O fato é que a solidão não é uma companhia agradável, na maioria das vezes. Todos desejamos encontrar alguém que mexa nos nossos cabelos antes de dormir ou que conte uma piada quando nosso chinchila morre em menos de 24h depois que você comprou. No frigir dos ovos, é o nosso cérebro que se encarrega de nos fazer sofrer quando tudo que a gente quer é sentir o coração acelerar de maneira incontrolável de novo. E não se engane, nobre colega, se pensa que seu coração não faz nada. Pode ser até inofensivo sozinho, mas quando se junta com o seu cérebro, sinto lhe informar que é game over para você.